Fiz uma tatoo do iPhone 11 na minha testa | Minha história sobre competições em mídias sociais

Vou começar dizendo que sou de uma família pobre. Meu pai está preso há 15 anos e minha mãe tem dois empregos só pra poder alimentar meu irmão mais novo e eu. O salário dela dá apenas pro básico. E as roupas nós ganhamos de alguns parentes.
Isso tudo é fácil para o meu irmão, porque ele não se importa com a aparência. Mas para mim não, eu tinha muita vergonha das minhas roupas, eu queria ficar bonita e elegante. Mas isso foi só um sonho.
Este ano, me formei no ensino médio e, claro, ir para uma faculdade está fora de questão, eu tenho que trabalhar. Talvez eu possa finalmente comprar um jeans novo e uma camiseta. Eu realmente quero sentir a sensação de poder ter roupas novas.
Todos os meus amigos não são de famílias ricas, e o bairro onde moramos é tenso.
Tem prédios muito antigos e acabados aqui, alguns deles estão destruídos, outros não têm água e nem luz. Parece que só aqueles que não têm outra alternativa vivem aqui. E foi assim que nosso grupo se formou.
Nunca perdemos a oportunidade de ganhar algum dinheiro e nunca recusamos brindes. Valorizamos nossa amizade e sonhamos em sair dessa pobreza chata.
Há cerca de 2 anos, eu comecei a participar de várias competições nas redes sociais. Eu até já consegui ganhar um bolo e um conjunto de pratos. Pode parecer pouco para algumas pessoas, mas fiquei muito feliz em ganhar esses prêmios e compartilhar minha alegria com minha mãe e meu irmão.
Uma vez, ao ver meu feed no Instagram, eu vi um concurso. Pelos comentários abaixo eu entendi que isso causou uma certa polêmica. De fato, as condições para receber o prêmio pareciam realmente loucas.
Quem fizer uma tatuagem no rosto com a palavra "iPhone 11" ou o seu símbolo vai ganhar um iPhone 11 como prêmio. E a tatoo deve ser real, não pode ser de henna ou aquelas que saem depois de alguns dias.
Todos estavam falando sobre o concurso, porque era impossível acreditar que alguém concordaria em fazer uma coisa dessas.
Mas tem eu, para quem o iPhone 11 é igual a um voo para o espaço ou algo da realidade paralela, ou seja, completamente inatingível.

Faltam duas semanas para o concurso. Eu passei esse tempo todo pensando se preciso disso ou não. Eu não ia fazer uma tatuagem para o resto da minha vida, mas fazer uma tatuagem temporária que desaparece depois de alguns meses era a solução perfeita.
Eu sempre tive franja longa e uma tatoo atrás dela não ficaria visível, a menos que ventasse ou chovesse demais.
De qualquer forma, eu queria participar da competição. Porque eu pensei: "Bem, eu vou usar essa tatuagem em baixo da minha franja por uns 8 meses e ela vai sumir, mas o iPhone 11 vai ficar comigo."
Eu tomei a decisão final um dia antes da competição. Naquele dia eu tive uma briga horrível com a minha mãe, ela me chamou de várias e me proibiu de tocar na torta que ela tinha feito.

Eu estava na pior, eu fui visitar meus amigos, só queria me distrair um pouco. E foi lá que conheci um tatuador iniciante. Naquele momento, ele estava procurando modelos para obter o dom e melhorar suas habilidades.
"É o destino", eu pensei. Meus amigos não puderam me impedir, e depois de algumas horas, eu tinha uma tatuagem com uma maçã mordida na minha testa. Claro, nós combinamos com antecedência que ele faria uma tatuagem usando pigmentos que durassem não mais que um ano.
Bem, na verdade, eu achei que ficaria muito pior. No espelho, eu não vi muitas mudanças na minha aparência.
No dia seguinte, eu fui na praça principal da cidade, onde as comemorações por causa do lançamento do iPhone 11 já tinham começado.
Os apresentadores chamaram os que tinham feito tatoo para mostrá-la e assim, ganhar o iPhone.

Acontece que eu não fui a única que fez isso. Um cara com uma tatuagem parecida subiu no palco comigo. O público estava rindo de nós, mas a gente não deu bola. Estávamos super ansiosos para ganhar os iPhones.
E finalmente, o tão esperado iPhone 11 estava nas minhas mãos. Eu não podia acreditar que eu tive tanta sorte. E no palco eu simplesmente comecei a chorar.

Os jornalistas nos entrevistaram, tiraram fotos para jornais e revistas e isso foi muito legal. Não é todo dia que você recebe tanta atenção. Eu me senti como uma celebridade.
Mais tarde, eu voltei para casa de ônibus, e quando já estava no meu bairro, dois homens usando máscaras chegaram perto de mim. Eles me ameaçaram com uma faca e mandaram eu entregar meu celular.
Eu não hesitei em entregar o meu telefone antigo, mas eles ficaram com raiva, falaram para eu não enganá-los, e que eles queriam mesmo o meu iPhone 11.
Eu não estava pronta para me desfazer do meu prêmio. Naquele momento, eu pensei que era melhor morrer do que dar meu telefone a eles.

Mas eles não iam me segurar com luvas de criança. Eles me acertaram com algo pesado na cabeça.
Eu acordei no hospital e tive uma dor de cabeça terrível. Médicos e enfermeiros ficaram chocados, e perguntaram como eu pude fazer isso comigo mesma. Eles disseram que minha mãe tinha saído para comprar água e que já estava voltando.